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O ESCRITOR E DEUS

“Procura compreender o que dizem os artistas nas suas obras-primas, os mestres sérios. Aí está Deus”. (Vincent van Gogh)

“Faz tempo que para pensar sobre Deus, não leio os teólogos, leio os poetas”. (Rubem Alves)

 

Desculpe-me a ousadia, caro leitor, porque escrever de forma literária é como estar em comunhão com Deus. É quando o escritor está só e mergulha no subjetivismo, que emana do maestro-mor do universo. Deus é solidão e o escritor também. Escrever é alinhar ideias em textos e transformar abstrações em situações reais: a criação. Criar é fazer maravilhas da ausência absoluta. Assim é Deus, assim é o escritor quando fala com Ele e fala dEle.

Damos a Deus a significância suprema e ao escritor a modéstia submissa, mas escrever é como estar em comunhão com Deus. Então meu texto é oração, não importa gênero, tamanho, ponto de vista, lugares, indagações, personagens, ações, ilações poéticas e descrições exuberantes. Orar também é falar com Deus.

O texto é o efeito do silêncio e da emoção, concebido no diálogo com Ele, o Senhor do espaço sideral. Quando o submisso escritor e o supremo criador estão em comunhão, o texto flui como as nuvens que voam e cumpre sua função social: a leitura. Então, ler é assimilar e entender a conversa com Deus.

Deus é onisciente, o escritor também. Deus é ciente do universo; o escritor, da imaginação. Deus domina o mundo, o escritor o texto. Deus está no meu texto porque eu estou com Deus. Se Deus está no texto, o texto é bom.

Deus é onipresente e o escritor também. Ele sabe onde estou e eu sei onde Ele está. Deus está presente no espaço sidéreo; o escritor, no seu mundo interior. Deus é presença, o escritor, comparência.

Deus é onipotente, o escritor benevolente. Se escrever é estar em comunhão com Deus, e se Deus é onipresente, meu texto é onde Ele está: nas flores, nas árvores, nas gentes, nos pensamentos, nas ondas do mar, na música e em mim mesmo: eu estou no texto e o texto está em mim: criatura e criação se unem, ensaio uníssono e perene. Ora, se Deus é onipresente e se os templos são lares do Criador, todos os lugares do mundo são templos.

Deus é verdadeiro e meu texto verossímil. Sei Dele e Ele sabe de mim. Não há invenções, falácias ou traições. Não se questiona mais: é verdade? Para o escritor ficções são sempre reais.

É complicado? Não, é muito simples: escrever é estar em comunhão com Deus! Por isso escrevo e por isso muitos escrevem, porque assim como já afirmei em outro texto, de acordo com Graciliano Ramos, na obra “Linhas tortas”: “A palavra não foi feita para enfeitar [...]; a palavra foi feita para dizer”.

E, assim, tenho dito!

 

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